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Resenha - O que é Empoderamento?, de Joice Berth


Aryana Costa


Imagem de divulgação da primeira edição de O que é empoderamento, de Joice Berth


Texto originalmente publicado na página Feminismos em Debate, projeto desenvolvido no Instagram pelas professoras Aryana Costa, Lívia Barbosa e Maiara Juliana Gonçalves da Silva.

Parte da coleção Feminismos Plurais, organizada por Djamila Ribeiro e agora editada pela Pólen, O Que é Empoderamento foi escrito pela arquiteta e urbanista Joice Berth e lançado em 2018. No total, a coleção possui sete títulos que abordam conceitos ou temáticas relevantes para a discussão sobre racismo e feminismo no Brasil e no mundo. A proposta é apresentar essas discussões que já devem ter aparecido no mínimo nas nossas redes sociais aos leitores e leitoras brasileiras (mas não só, uma vez que Lugar de Fala de Djamila Ribeiro (2017) já foi traduzido para o francês e publicado).


Em O que é Empoderamento, Berth cumpre bem a função de apresentar a discussão sobre o conceito Empoderamento. São quatro capítulos: “O Que É Empoderamento?, Opressões Estruturais e Empoderamento: um ajuste necessário; Ressignificação pelo Feminismo Negro; Estética e Afetividade: noções de empoderamento; Considerações Finais.” Neles, Berth faz um apanhado sobre o uso do termo empoderamento, que remontaria aos trabalhos da assistente social estadunidense Barbara Solomon na década de 1970. O uso do termo, ou ao menos seu propósito, também é remetido às obras do nosso conhecido Paulo Freire, que propunha que não existe ação crítica que não seja oriunda do próprio sujeito e seu domínio sobre sua realidade.


Esse pode ser considerado o mote para a explicação que a autora faz no capítulo seguinte para esclarecer os usos que têm sido feitos do termo, especialmente em tempos de redes sociais, memes, viralizações e hashtags. Alertando para a apropriação desse termo por governos e corporações que na verdade não transpõe o limite do indivíduo, Berth insiste que empoderamento não pode ser pensando se não for para a emancipação dos indivíduos e indivíduas em coletividade. Para isso, ela usa exemplos de projetos de políticas públicas que tanto contribuem para isso quanto de projetos que usam o termo apenas como um chamariz. Não se trata apenas de afirmar nossa autoaceitação, mas de trabalhar para que as ferramentas de emancipação e autoaceitação estejam disponíveis para todos e todas.


E essa é uma das principais contribuições que o feminismo negro deu ao uso do termo. Lembrando que “se uma mulher negra se levanta, toda a estrutura se levanta com ela”[1], o feminismo negro veio para nos lembrar exatamente que não adianta apenas as mulheres se libertarem das imagens de controle que a sociedade patriarcal lhes impõe, o que muitas vezes implica em mulheres postando fotos de autoaceitação de seus corpos em redes sociais, por exemplo. Isso precisa vir acompanhado de políticas que efetivamente promovam a emancipação financeira e psicológica de todas as mulheres. Representatividade importa, mas ela precisa vir acompanhada de real inclusão de grupos. Não adianta apenas a Maju Coutinho na bancada do Jornal Hoje – isso não evitou as mortes de Ágata Félix, de João Pedro e João Vitor em ações de agentes de “segurança pública” em comunidades. E é disso que se trata empoderamento. De que comunidades, grupos de minorias sociais possam 1. Se amar; 2. Construir políticas que sejam genuinamente representativas de si; 3. Reivindicar que as oportunidades sejam para todos e todas, e não apenas para alguns poucos que consigam furar a bolha.


A edição que li foi a ainda publicada pela “Ed. Letramento” em 2018 e possui alguns erros de revisão. Não sei se nos relançamentos essas questões foram corrigidas. Todavia, isso de forma alguma diminui o mérito da obra, que serve como introdução ao debate, assim como realiza um importante levantamento bibliográfico para quem quiser continuar. Além de nos ajudar a nos organizarmos para ações efetivas nesse 2020 tão desgovernado.

 

Nota


[1] Essa afirmação é recorrente na obra e entrevistas da filósofa Angela Davis e tornou-se premissa básica não só no feminismo negro, mas também naqueles movimentos que optam por reconhecer uma necessária interseccionalidade para combater opressões contemporâneas.

 
 

Referências


BERTH, Joice. O que é empoderamento?. Belo Horizonte: Letramento: Justificando, 2018.

BERTH, Joice. O que é empoderamento?. São Paulo: Pólen, 2019.

 


Aryana Costa é professora no DHI / UERN, campus Mossoró, trabalha com ensino de História e História da Historiografia.

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